sábado, 21 de fevereiro de 2009

POEMA Á MÃE



Eugênio de Andrade( nome literário de José Fontinhas Rato, poeta português que ganhou o prêmio CAMÕES) dono de inspiração quase divina. Eugénio de Andrade foi o pseudónimo de José Fontinhas Rato, poeta português do séc. XX, nascido na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão) em 19 de Janeiro de 1923, fixando-se em Lisboa em 1932 com a mãe. A beleza de seus escritos, toca o coração de qualquer um... POEMA À MÃE !!! ***************** Tamanho da fonte No mais fundo de ti, eu sei que te traí, mãe! Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos! Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais! Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura! Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos... Mas tu esqueceste muita coisa! Esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração ficou enorme, mãe! Olha - queres ouvir-me? Às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos; ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura; ainda oiço a tua voz: "Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..." Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu... Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas... Boa noite. Eu vou com as aves! (Autor: Eugênio de Andrade) ***********************************************************************************

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